ALENTEJO: “PARA ALÉM DO (RIO) TEJO”
Recentemente o Alentejo, cujo nome significa para além do Tejo, tem vindo a prender a atenção do mundo – uma região agrícola facilmente comparada à região da Toscana em Itália, com paisagens amplas e desertas que alguns consideram semelhantes às Savanas africanas. A sua história é também bastante rica e é o berço de alguns dos melhores vinhos e iguarias da gastronomia portuguesa.
As planícies que se estendem infinitamente iniciam-se perto do Tejo; ao passo que a norte a paisagem é dominada pelos campos verdes e a sul o ritmo é lento graças à combinação do sol e calor; assim se apresenta o Alentejo.
A norte, as pastagens em terrenos pantanosos; no vasto interior de planícies sem fim e campos de trigo que se movem ao sabor do vento; na costa, praias intocadas e de uma beleza sem precedentes que anseiam por ser descobertas… A vastidão da paisagem é completada pelos montados de Sobreiro e Olivais que perduram no tempo.
O Alentejo possui uma das maiores concentrações de dólmens e menires neolíticos da Europa. O Cromeleque de Almendres é talvez o mais conhecido – antecedendo Stonehenge em cerca de 3.000 anos.
Outros notáveis incluem a Anta Grande do Zambujeiro (o maior dólmen de Portugal), o Menir da Meada em Castelo de Vide (o menir mais alto da Península Ibérica, com 7 metros) e megalitos em Portalegre e Reguengos de Monsaraz.
Os megalitos alentejanos são bastante mais antigos do que outros monumentos da Europa Ocidental e a sua criação aponta para o início da sociedade ordenada: o desenvolvimento das práticas agrícolas.
Os mouros chegaram no século VIII e mantiveram o poder até 1249, altura em que a reconquista os expulsou definitivamente. Neste período, assistiu-se a uma expansão do artesanato artístico, com a produção de azulejos decorados e de numerosas outras actividades artesanais, como a tecelagem de tapeçarias e tapetes, a marroquinaria e a ourivesaria. Os mouros também introduziram técnicas de navegação que mais tarde permitiram aos exploradores portugueses redesenhar as fronteiras do mapa-mundo.
As ruas estreitas e as ruelas calcetadas de casas baixas e caiadas de branco, tão características das aldeias fortificadas do Alentejo, são frequentemente atribuídas aos mouros. Um dos vestígios mouriscos mais conhecidos é a igreja de Mértola, onde as colunas esguias, as portas islâmicas e a arquitetura denunciam o facto de ter sido outrora uma mesquita, datada do século XII.
Durante a reconquista cristã do século XII, nasceu Portugal tal como o conhecemos atualmente. Nos séculos seguintes, os descobrimentos do Novo Mundo e, mais tarde, o boom do ouro no Brasil deram origem a uma nova prosperidade. Dias abriu o caminho para a Idade de Ouro, contornando o Cabo da Boa Esperança em 1488. Uma década mais tarde, Vasco da Gama chegou à Índia, pouco antes de Cabral desembarcar no Brasil. Entre 1519 e 1521, Magalhães circum-navegou o globo e em breve Portugal tinha colónias da Amazónia à Argentina e de Kerala a Banguecoque.
O comércio global trouxe prosperidade e o florescimento das artes e da arquitetura. Assim, nos séculos seguintes, surgiram muitos palácios renascentistas, conventos e belas igrejas, com influências manuelinas, barrocas e rococó, espalhados por vastas paisagens, mas também em cidades e aldeias fortificadas – foram erguidas muitas medidas defensivas contra a ameaça espanhola, que hoje são fonte de grande beleza. São inúmeros os exemplos que merecem uma visita: Portalegre, Arronches, Évora, Redondo e Terena.
Os castelos de Beja e Estremoz, do século XIV, são fascinantes e as fortificações em forma de estrela de Elvas estão entre os melhores exemplos do mundo. O castelo circular de Arraiolos é raro e as cidades fortificadas de Marvão e Monsaraz, no cimo das colinas, são imperdíveis e requintadas.
Por fim, o povo alentejano possui um património rico, com uma abordagem amigável e conservadora da vida, natureza e um estilo gastronómico distinto. A região é conhecida pelo seu ritmo de vida mais lento, mas esta é a única forma de gerir o seu dia quando a temperatura no verão ultrapassa regularmente os 40ºC.
Nesta região, como é sabido, a cozinha é um ex-libris, como em tantas outras regiões. No entanto, a razão é simples: os deliciosos ingredientes alentejanos são aliados às mãos sábias das gentes que aqui vivem há gerações.
No passado, a vida no Alentejo era muito dura e os recursos económicos das pessoas eram escassos. Os mais velhos costumam contar a história de que, nos tempos da ditadura do Estado Novo, em meados do século XX, 2 ou 3 pessoas podiam contar com a partilha de uma única sardinha à hora da refeição. A conjugação destes fatores permitiu que a gastronomia tradicional alentejana se tornasse simples mas criativa, misturando os ingredientes sazonais disponíveis para criar pratos com origens fáceis de reconhecer.
Quanto ao vinho, existe uma longa lista de vinhos excecionais, com uma mistura de tintos arrojados e encorpados e de vinhos brancos suaves e equilibrados, distribuídos por oito regiões demarcadas.
A Rota dos Vinhos do Alentejo foi criada para melhor ajudar os enoturistas a navegar na região. Abrangendo um total de 66 adegas, estas rotas atravessam o Alentejo, divulgando a rica diversidade desta região vitivinícola, desde o distrito de Portalegre, a norte; às encostas da Serra de São Mamede, o ponto mais alto a sul do rio Tejo; até ao distrito de Évora; passando pelas sub-regiões de Borba, Redondo e Reguengos, na parte central do Alentejo; e descendo até ao distrito de Beja e sub-regiões de Granja-Amareleja, Moura e Vidigueira.
Dependendo da adega, o visitante pode esperar desde simples visitas à vinha e à adega até provas de vinhos e refeições. Algumas incluem também hotéis rurais, proporcionando aos visitantes uma experiência mais íntima no interior alentejano.